Arte e monumentos: entre o esquecimento e a memória

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Data

2022

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Cegraf UFG

Resumo

Descrição

George Floyd, um homem negro, foi brutalmente assassinado em 25 de maio de 2020 pela polícia de Mineápolis, nos Estados Unidos. Não era o primeiro, e infelizmente não foi o último a sofrer a violência do sistema policial. Apenas poucos dias após o ocorrido, o movimento Black Lives Matter iniciou uma onda de protestos sem precedentes que se estendeu rapidamente por diversos países e regiões. Em pouco tempo, estátuas e diversos símbolos vinculados à dominação colonial foram atacados, sendo a derrubada da estátua de Edward Colston, em Bristol, a mais emblemática. Protestos com estas características não são uma novidade, porém tiveram grande impulso nos últimos anos no mundo assim como na América Latina, em especial no Chile e no Equador, durante lutas por direitos sociais sendo largamente amplificados após o assassinato de George Floyd. Naquele momento, ainda não sabíamos o que iria acontecer com a paralisação das nossas atividades acadêmicas, ocorrida pelo advento da pandemia e do pânico causado pelo poder de contaminação da Covid-19. Em nossas casas, éramos surpreendidos pelas fortes imagens vinculadas aos protestos contra os monumentos suscitando muitas perguntas ao mesmo tempo em que a pandemia avançava, deixando centenas de milhares de mortos, nos levando a questionar nossa maneira de ver, agir e estar no mundo, dados os impactos sanitários, sociais e políticos que alcançaram. Foi no contexto destes acontecimentos que organizamos, às pressas, o evento «Arte e monumentos: entre o esquecimento e a memória»1, com o propósito de levantar discussões sobre as memórias e os esquecimentos como forma de pensar a convivialidade social e democrática em espaços públicos. Consideramos, naquele momento, que era importante levantar discussões sobre a relação contemporânea dos diversos segmentos da sociedade com a arte e seus espaços públicos, dando especial destaque à relação com os monumentos históricos, levando em consideração estas recentes manifestações. Quando pensamos em reunir intelectuais, artistas e acadêmicos para fazer um grande debate on-line, nosso foco de atenção tinha se concentrado na questão da memória e do monumento enquanto documento. Portanto, mais do que a derrubada de estátuas, interessava-nos compreender como aquele momento histórico – pensando na relação contemporânea entre a arte e a vida – poderia, de algum modo, ser impactado por essa complexa realidade que foi se apresentando. Cabe lembrar, mais uma vez, que esta discussão não é nova para artistas, acadêmicos e intelectuais e, certamente, menos ainda por aqueles que são atingidos diretamente pela opressão moderno-colonial- hetero-patriarcal que essas imagens e monumentos representam. Todavia, a questão ganhou relevo enorme e, se as estátuas estão caindo, julgamentos e textos têm levantado o problema como nunca antes fora feito. Nesse contexto, há mais perguntas que respostas. No entanto, na ágora do debate têm aparecido algumas formas de lidar com estes monumentos: 1) retirá-los do espaço público contextualizando-os em museus; 2) deixar os pedestais vazios marcando o gesto de retirada; 3) possibilitar que os monumentos se tornem lugar de intervenções artísticas; 4) deixá-los onde estão pois formam parte da “história”; e, 5) destruí-los. Qual seria a melhor opção? Pensando, então, na complexidade do assunto, nós, organizadores daquele evento, decidimos ampliar o debate, culminando na organização do presente livro, com textos dos palestrantes e de outras vozes convidadas especialmente para formar este coro polifônico de ideias. Entre elas encontram-se artistas, intelectuais e historiadores do Brasil e do exterior, em uma diversidade que reflete nossas próprias posições sobre o tema em questão. Do evento à publicação deste livro, muitas coisas aconteceram. Enquanto no Brasil o assassinato por espancamento de João Alberto Freitas, um homem negro, não se desdobrou em revoltas além de protestos pontuais, nos EUA, o policial que sufocou George Floyd até à morte foi condenado a 22 anos de prisão. No Chile, uma nova Constituição vem sendo preparada com a participação de mulheres e povos indígenas, e no Peru, Pedro Castillo, apoiado pelos povos indígenas e pela maioria rural sem acesso ao Estado, venceu uma dura eleição contra e extrema direita. No Brasil, assistimos a reações contra o genocídio pelo descaso do governo diante da pandemia, pela falta de políticas sociais e pela ausência de investimentos que resultem em trabalho e emprego, levando a população a ir às ruas com pedidos pela imediata aplicação da vacina contra a Covid-19, por comida no prato dos trabalhadores e pela deposição do presidente, afundado em escândalos de corrupção que levaram à morte, até agora, mais de 600 mil pessoas. Acreditamos que o tempo passado entre o evento e a atual publicação deste livro ajudou o debate a ganhar a amplitude que ora apresentamos ao público: docentes, discentes, artistas, arquitetos, urbanistas, sociólogos, antropólogos e todos aqueles interessados na discussão sobre usos e significados desses símbolos no espaço público. Por fim, reafirmamos que as reflexões que o presente livro apresenta, sem dúvida nenhuma surgem em um momento decisivo do campo democrático e das lutas contra o machismo, o patriarcado, o ecocídio, a misoginia e toda a herança colonial.

Palavras-chave

Memória coletiva na arte, Arte e sociedade, Monumentos - aspectos sociais, Patrimônio cultural

Citação

DUARTE-FEITOZA, Paulo Henrique; SÁ, Rubens Pilegi da Silva (org.). Arte e monumentos: entre o esquecimento e a memória. Goiânia: Cegraf UFG, 2022. E-book (273 p.). ISBN 978-85-495-0431-9. Disponível em: http://repositorio.bc.ufg.br/handle/ri/20170. Acesso em: 12 jan. 2022.