Violência contra migrantes no México

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Data

2021

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Editora UFG

Resumo

Descrição

Diz o filósofo alemão Peter Sloterdijk que o livro é uma carta aos amigos distantes – os leitores, os interlocutores e todos que reconhecem na palavra escrita uma forma de diálogo e de busca de entendimento. A prática de “troca de cartas”, ao longo da história humana, conforme Sloterdijk discorreu em seu ensaio Regras para o parque humano, de 2002, foi fundamental para que a humanidade se reconhecesse e, sobretudo, estabelecesse parâmetros para sua coexistência. Se hoje somos o que somos, muito se deve, conforme afirmou, ao gesto de trocar cartas. Isso implicou um minucioso e cuidadoso ato de ler e compreender o que está ocorrendo na vida do outro. O leitor ou leitora deve se aproximar do livro de Júlio da Silveira Moreira como se recebesse uma carta em que ele envia notícias de um lugar que, embora longínquo, possui muitas semelhanças com o nosso meio. Ele remete historias de longe, mas que necessitam ser lidas para que todos saibam o que está ocorrendo do outro lado do mundo. A leitura é fundamental para que não percamos nossa humanidade e, espera-se, não sejamos indiferentes e desprezemos as pessoas como se elas fossem descartáveis. Ler é um passo fundamental. Mas precisamos ir além da leitura exploratória e de deleite; também precisamos da crítica sobre as práticas que edificam o estado de coisas que observamos em nosso redor e em lugares distantes. Portanto, ainda que o livro seja uma carta longa, digo que o leitor ou leitora será absorvido pelas narrativas apresentadas por Júlio Moreira. Em suas palavras, o autor traz muito da vida cotidiana das pessoas, do dia a dia das mães que buscavam notícias dos seus filhos desaparecidos, e das passeatas dos movimentos sociais que questionavam a prática de “guerra às drogas”. Apenas no México, aproximadamente 30 mil pessoas desapareceram desde que se implementou a política de guerra às drogas, conforme destacou o poeta mexicano Javier Sicília. Hoje, relendo seu livro, tento ver o jovem doutorando entrando em minha sala e apresentando sua proposta de trabalho. Foram vários encontros e diversas trocas de mensagens sobre os rumos a tomar. Júlio Moreira é um advogado e tornou-se um doutor em sociologia pela sua coragem de seguir as trilhas deixadas pelos imigrantes e conhecer o mundo real da fronteira que separa o México dos Estados Unidos. Mais que uma mediação entre o pesquisador e o mundo do conhecimento, a orientação foi um processo de aprendizado. Já conhecia a realidade de brasileiros que tentaram a vida no exterior. Desde muito tempo, em especial desde a chamada “década perdida”, nos anos de 1980, brasileiros migram para os mais variados países em busca de um futuro melhor. Nos últimos anos, ouvi e presenciei histórias de amigos e desconhecidos sobre suas procuras por oportunidades fora do Brasil. Ouvi relatos das dificuldades comuns a todos e todas ao vivenciar a experiência de ser estrangeiro; isto é, ser o estranho, o de fora (o forasteiro). Mais que isso, ser visto como um intruso, um problema, um incômodo. Todos sentiram na pele ao se verem, em poucas caminhadas pelo mundo, observados e vigiados. A cada passo, um olhar; a cada gesto, uma câmera. Mas, se os relatos de amigos e conhecidos deram pequenas amostras do que é ser estrangeiro, nada se aproxima das abissais histórias dos migrantes que tentam atravessar as fronteiras dos Estados Unidos, via México. Segundo o Informe de Misión a México, de 2013, do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos, aproximadamente 150 mil migrantes viajam anualmente através do México para cruzar a fronteira norte. Esses migrantes acabam sendo vítimas fáceis de seqüestro ou de extorsão. Ainda de acordo com o Informe, entre abril e setembro de 2010, em torno de 11.333 migrantes foram sequestrados, principalmente por grupos vinculados ao crime organizado. A despeito dos riscos, muitos ainda sonham atravessar as fronteiras do México e entrar nos Estados Unidos; entre eles, inúmeros brasileiros. Para saber mais e compreender o que move tantas pessoas a experimentar esse risco, recomendo, leiam a carta enviada por Júlio Moreira. Aprenderemos muito com ela. (Texto escrito por Dijaci David de Oliveira)

Palavras-chave

Emigração, Brasil, México, Estados Unidos, Violência, Condições sociais, Mães, Sequestro, Imigração

Citação

MOREIRA, Júlio da Silveira. Violência contra migrantes no México. 2. ed. Goiânia: Editora UFG, 2021. E-book (262p.). (Coleção Expressão Acadêmica). ISBN 978-65-86636-10-9. Disponível em: http://repositorio.bc.ufg.br/handle/ri/19441. Acesso em: 14 abr. 2021.